quarta-feira, 20 de junho de 2007

Tributo a ti


Uma amiga...

Uma Mulher de M gigante
Uma Mulher de provações
Uma Mulher que merece e não tem ....


... ainda
... mas vai ter

Lições de vida de um coração de prata:

"Depois da tempestade...vem a bonança (valerá a pena manter a esperança?)

O que sinto é simplesmente indescritível. Desde que adoeci que o meu mundo interno ficou totalmente desestruturado, desorganizado. A minha vida mudou completamente da noite para o dia e o processo de adaptação foi rápido demais.

A cabeça não aguentou. Foram meses de desespero a tentar adaptar-me a doenças, a tentar mentalizar-me das minhas limitações, a ver e a observar as constantes e intermináveis modificações do meu corpo... e o pior de tudo! A confrontação com o meu próprio Eu! A consciência da minha fragilidade. Da fragilidade do meu corpo. Do meu corpo débil, frágil e indomável. Consciência das minhas limitações, das minhas dependências.

Meses e meses de angústia, a tentar consciencializar-me da minha fraqueza e da minha vulnerabilidade. Que afinal, o meu corpo é como uma peça de porcelana... frágil e que necessita de protecção...e não, não posso dominar. Não poso dominar tudo. Foi isso que me deprimiu. Foi esse pensamento que me conduziu ao fundo do poço, à depressão profunda, à desorganização e ao vazio do meu mundo interno, que anteriormente encontrava-se tão rico e preenchido. Porque antes, achava-me vitoriosa, poderosa, dominadora e segura de mim. Eu queria, eu podia. Eu dominava as situações. Eu controlava a minha vida. E, de repente, quando a doença se apoderou do meu corpo, apercebi-me de que afinal não posso dominar nada. Sou simplesmente um ser fraco, carente e vulnerável... como todos os outros.

E não posso dominar a vida. Não posso dominar as situações. Elas simplesmente acontecem. E eu tenho de aprender a adaptar-me a elas. Mas o processo de adaptação é uma tortura.

A experiência de vida pela qual passamos deixa-nos marcas irreversíveis... não no corpo. Mas na mente. Na alma. Quantas, mas quantas vezes julguei estar perdida na loucura... ainda hoje penso. Foram dois anos desgastantes de alterações às quais não consegui adaptar-me. Ainda estava muito presa ao passado. Ao passado nostálgico em que tudo era perfeito (ou quase perfeito) em que o meu corpo era saudável, a minha mente era liberta, e eu sentia-me segura e confiante.

E o presente... o presente angustiante, torturante dava cabo de mim. Ansiava por um amanhã melhor que nunca mais chegava. Vivia na fantasia de que um dia tudo iria melhorar... mas não melhorava. Acabei por perder as esperanças. Mergulhei e afundei-me em mim mesma, procurando perceber o porquê disto tudo acontecer... assim tão repentinamente. Tentei compreender o motivo pelo qual estava aqui, o porquê de tanto sofrimento, de tanta tortura psicológica que me estava a matar interiormente e caí... caí numa auto-análise obsessiva, mergulhei no meu Eu mais íntimo.

Fiz uma viagem interior, desfolhando cada página da minha vida, desde o dia em que nasci até ao dia de hoje. Retirei das gavetas todos os fantasmas escondidos que há tanto recalcava há tanto, talvez por vergonha, talvez por medo... mas tinha de os libertar! Tinha de os enfrentar! Para me compreender... para me ver.. para tentar descobrir a minha vida... para tentar descobrir o que estava aqui a fazer. Fundamentalmente, tentar perceber que sou eu afinal. Desvendar os meus segredos de criança, compreender as minhas fantasias, desfolhar as páginas da história da minha vida e tentar descobrir-me. Descobrir quem sou e o que construí até hoje. Os motivos dos meus medos. Dos meus fracassos. Das minhas ansiedades. Das minhas emoções, dos meus desejos mais resguardados e íntimos.

Tudo o que sou hoje é fruto e construído de um passado. De um passado vivido e esquecido. Resguardado em lembranças e fantasias. Arquivado em gavetas empoeiradas, esquecidas. Um passado em que eu tinha receio de te reviver ou relembrar. Um passado que eu tinha medo de tentar compreender, pois poderia assustar-me. Porque a realidade quando compreendida, é assustadora. E eu tinha medo. Medo de enfrentar os fantasmas do passado, de reviver e tentar compreender a minha história de vida. Pegar no livro, e começar a desfolhar e a desvendar o Eu, o meu verdadeiro Eu. As minhas raízes.

Foi aí que ganhei coragem e abri o livro. E confrontei-me. Deparei-me comigo mesma. Com a minha história de vida. Com as personagens da minha vida. Foi uma intensa e desgastante viagem interna ao meu ser. Foi um olhar para dentro de mim. Uma regressão ao tempo, ao espaço. Confesso... foi assustador. Diria até, torturante. Por mais que procure, não tenho palavras para descrever aquilo que senti. Não existem palavras que possam definir a intensidade do sentimento vivido... o que é uma mera palavra diante de um sentimento tão forte... simplesmente... indescritível

Já não conseguia controlar o meu pensamento. Estava a tornar-me obsessiva com toda esta análise. Afundei-me em mim, afundei-me em meus pensamentos de tal maneira, que cheguei a ter medo de mim mesma. Pensei estar a ficar louca, demente... nada mais fazia sentido. Por mais que quisesse compreender a minha vida, mais perdida me sentia. Sentia-me num vazio, numa completa confusão mental. Cheguei mesmo a sentir pena de mim mesma. Era tão castrador.

Tudo se resumia a dar um sentido, um valor à minha vida. A uma vida que estava desorganizada e desadaptada do real. Uma vida que estava prendida ao passado. Não existia aqui e agora. Não existia nada! Apenas fantasmas e fantasias. E desejos. Desejo de tentar compreender. Desejo de tentar viver uma vida sã e normal. Desejo de voltar a viver uma vida como tinha antes, livre de preocupações, de doenças, de pensamentos obsessivos, aterrorizantes.

Mas o passado é história. Já foi. Precisava de m libertar das correntes do passado e aprender a viver o agora! E enquanto estivesse presa às correntes de um passado já vivido, nunca seguiria para a frente. O presente jamais seria vivido com prazer, com satisfação. Apenas resta a angústia, o sofrimento...

Viver na nostalgia... não é viver. é buscar constantemente a tortura. Tempo não volta atrás, e os momentos são irreversíveis. Para quê? Para quê vivermos o hoje, o agora com o sonho do ontem? O ontem morreu... ficou para trás... podemos até relembrá-lo como doce lembrança e recordação da nossa vida... porque sim, o que somos hoje é constructo do que fomos ontem, e não devemos esquecê-lo nem apagá-lo de nossas memórias. Mas não! Nunca vivê-lo obcessivamente! Não viver um presente em torno de um passado. Não chorar por um passado perdido. Porque a vida continua. E se ainda estou aqui hoje... é por algum motivo. Não sei qual. Não sei porquê. Sei apenas que estou aqui, e que por muito passei. E ainda hoje estou a passar.

Cada dia, quando acordo e me olho no espelho vejo um novo Eu. Todos os dias me reinvento. Todos os dias me reconstruo. Como Mulher. Como Ser. Procuro o saber, o conhecer, procuro-me a mim mesma, procuro os outros, procuro ir mais além! E assim... vou-me construindo... todos os dias. Pedra sobre pedra. Crescendo e amadurecendo. Criando e recriando. Aprendendo e ensinando. E isso faz de mim um ser único. Como todos os seres são únicos. E aí pergunto, se valerá a pena continuar a questionar e a tentar compreender o valor da vida...
Deixemo-nos caminhas apenas pela estrada da vida, apanhando as pedras que encontramos pelo caminho, que nos constroem, que nos fortalecem, que nos alimentam todos os dias...

E não vale a pena tentar compreender... porque nunca... mas nunca chegamos a uma resposta ultima e verdadeira. Porque todos os dias sou uma nova Mulher. E cada dia conheço um novo Eu.

Cada vez maior."


Daniela Rodrigues - a Mulher de M gigante

Fim de citação

12 comentários:

Alice disse...

Adorei... bebi cada palavra!!

Beijo

Alice

Mercúrio disse...

Agradeço em nome da Daniela... vou passar-lhe o teu comentário, ela vai gostar...

*Um Momento* disse...

FC

A essa Mulher de M grande ...Acho que é mais de M tamanho do Universo...
Pelas suas palavras,
pelo seu sentir...
a coragem que tem ,
a força que a empurra para um novo dia ,
Admitindo a realidade
de que não vale a pena
viver o dia de ontem...
mas sim o de hoje...
o amanhã logo se verá...
A essa Mulher...
um Bem Haja
E ...dentro do que me seja permitido
Um Grande e Forte Abraço...pela sua Coragem e Lição de Vida
...............

Mercúrio disse...

Momento

Uma mulher de M Universal... não há dúvida

;)

Anónimo disse...

um momento...
Todas as manhãs,todos os dias que enfrento, são um renascer para mim. Ainda hoje estou a adaptar-me à minha nova vida. Ao meu corpo. Ao meu Eu. E sim... dói.Mas,cada dia é um novo dia, assim como o sol é novo todos os dias. E temos de acreditar que o amanhã,certamente será melhor...estamos aqui por algum motivo. Vamos então vivê-lo da melhor maneira, aprendendo com as nossas experiências e com as experiências dos outros.
Obrigada pelo teu comentário.
Neste momento transmite-me muita força e muita alegria saber que a minha experiência, (ao longo de dois anos intensos de desamparo e angústia!) poderá ser uma lição de vida para alguém, e que alguém poderá aprender algo comigo...
Porque nestes momentos... sentes-te num vazio... sentes-te perdida...e saber que sou ouvida, e que sou compreendida...é para mim, agora, neste momento, neste presente, a sensação mais doce que poderei sentir.
Obrigada :)

Daniela

*Um Momento* disse...

Daniela...

Foi com carinho que aqui vim...
E com ternura que as suas palavras li, senti e abracei cada letrinha...
Sim , é uma grande Lição de Vida.
Sorrio ao seu carinho , á coragem transmitido em cada palavra , agradeço a Partilha de algo tão delicado
Daniela ...vivamos o Momento, vivamos o hoje, amanhã será um novo dia , sim eu sei
Mas vivamos hoje o mais q pudermos
Um grande e forte abraço...um grande beijo no seu Coração
(*)

( tenho tanto para lhe dizer... mas as palavras faltam-me neste momento).....

Gaja Boa 2 disse...

daniela

Importaste que te homenageie lá no meu canto??? É que há malta que só pensa em futilidades e desafios da tanga....não lhes vai fazer mal nenhum falar de verdadeiros desafios...
desculpa o atrevimento

bjs

Anónimo disse...

gaja boa

De modo algum...não é atrevimento da tua parte...Sinto-me até bastante lisonjeada! O verdadeiro desafio é viver, não é apenas sobreviver... e viver na trivialidade...não é viver! Por isso partilho a minha experiência e aprendo com a experiencia dos outros, pq é isso que nos faz crescer :)

Beijos para ti tb

Daniela

Gaja Boa 2 disse...

daniela

então pronto! Ta decido! Vou fazer um post la no meu canto inspirado em ti!!!

bjs

*Um Momento* disse...

gaja boa ...
Um sorriso do tamanho do Mundo

Daniela
Bom fim de semana (",)
( tem o meu endereço de correio eléctrónico ... diponha sempre)

Um beijo enorme(*)

Silêncio © disse...

Vim ler...

Não consigo comentar...

É emocionante demais...

saindo.....

Haidji disse...

mesmo q a cada dia mudes,
mesmo q te transformes a cada manha
adormeças diferente a cada noite
o q faz de ti

o que és
é manteres e tentares encontrar a essencia
...de daniela
aquela
que tenta nao contaminar-se mais com as cascas diarias, q despes ao adormeceres
e com as sombras da noite que deixas serem levadas pelo sol da manhã

e permite-se vestir outras roupas
por cima de um mesmo corpo...pq, talvez, percebeste, q a podridao das roupas velhas...adoecem o corpo
e tira-las quando ja apodreceram, por vezes doi
e arranca pedaços de pele...doi...
mas cicatriza...